DE/POR – Alexandre Martins Fontes e Rui Campos

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Alexandre Martins Fontes e Rui Campos/PublishNews

Com algumas práticas, a livraria passa a ser vista com desconfiança: é um lugar especial, inigualável para um passeio em família, mas deixa de ser o local onde os livros são adquiridos

Vender um produto por um preço abaixo do anunciado é uma estratégia antiga e que sempre funcionou. Anuncia-se o “DE” e vende-se pelo “POR”. Quem nunca entrou numa loja e encontrou uma etiqueta DE/POR? Essa história está longe de ser uma novidade.

A novidade é ver empresas adotando essa estratégia de forma irresponsável, sem dar a mínima bola para o estrago que ela causa para seus maiores parceiros. Isso é exatamente o que vem ocorrendo, de uns tempos para cá, no mercado editorial e livreiro brasileiro.

Por aqui, não faltam editoras adotando a seguinte prática: ela, editora, estabelece o preço de capa que será válido para as livrarias do país, o "DE". Ao mesmo tempo, oferece seus títulos, através de seus sites, pelo "POR" (acrescido de mais mil e uma outras vantagens: frete grátis, marcadores de páginas, ecobags, bandeirolas etc).

A livraria continua expondo, indicando, divulgando, recomendando e vendendo o livro pelo preço estabelecido pela editora. Seu cliente, no entanto, passou a ter a opção de comprar no site da editora – fornecedora e, teoricamente, parceira da livraria – por um valor menor.

É fácil concluir que, a partir daí, a livraria passa a ser vista com desconfiança: é um lugar especial, inigualável para um passeio em família, ideal para se conhecer novidades ou para se fazer pesquisas, mas deixa de ser o local onde os livros são adquiridos. Porque ali eles são mais caros.

Não é também difícil prever que, a médio prazo, essa atitude desleal levará ao enfraquecimento da rede livreira e à desmoralização desse que é o local de encontro entre o livro e o leitor.

Ao insistirem nessas ações, as editoras prejudicam o ecossistema, comprometem a reputação das livrarias, e, ao mesmo tempo, destroem o valor do livro na percepção do público.

Ao definir o preço do livro e negociá-lo com uma livraria, a editora está assinando um contrato. Vender esse mesmo livro por um preço abaixo do estabelecido por ela é uma quebra desse contrato.

É claro que há ajustes a se fazer no mercado. Sempre haverá. Mas se todos compreendermos os problemas apontados aqui, essas editoras poderão passar a fazer a melhor promoção de todas: DE uma atitude predatória, com a qual todos temos a perder, POR um país com mais livros, mais leitores e mais livrarias. O país no qual merecemos viver.

CRÉDITOS: Alexandre Martins Fontes e Rui Campos/PublishNews
FONTE: PublishNews